POR QUE UMA CLÍNICA DO TESTEMUNHO?
SILENCIAMENTO E SINTOMA SOCIAL
"Se o trauma, por sua própria definição de real não simbolizado, produz efeitos sintomáticos de repetição,
as tentativas de esquecer os eventos traumáticos coletivos resultam em sintoma social.
Quando uma sociedade não consegue elaborar os efeitos de um trauma e opta por tentar apagar a memória do evento traumático, esse simulacro de recalque coletivo tende a produzir repetições sinistras."
Maria Rita Kehl.
TESTEMUNHO
O silenciamento foi e continua sendo uma política de Estado que, na medida em que não é visibilizada, abre caminho para sua repetição ao longo da história. Neste sentido, o testemunho, como construção coletiva de memória social, é chave para que os acontecimentos da Ditadura sejam reconhecidos como parte da história brasileira, bem como a responsabilização dos agentes do Estado implicados nas práticas de exceção.
"A dor que exprime o berro assinala a queda, o fim da alucinação: a partir de agora, ele poderá – até o fim de seus dias –
falar a respeito. A possibilidade de narrar essa experiência é indissociável de uma perda. "
Heitor O’Dwyer Macedo
"A dor que exprime o berro assinala a queda, o fim da alucinação: a partir de agora, ele poderá – até o fim de seus dias –
falar a respeito. A possibilidade de narrar essa experiência é indissociável de uma perda. "
Heitor O’Dwyer Macedo
TESTEMUNHO X DEPOIMENTO
O testemunho difere radicalmente da dimensão do depoimento, o primeiro nos abre a perspectiva de elaboração do trauma reforçado pelas tecnologias de silenciamento. Tomar o testemunho como um saber autoral e portanto, ficcional, implica o reposicionamento do sujeito ante o horror vivido, justamente na medida em que um outro o escuta, emprestando-lhe um espaço para pensar e sentir aquilo que anteriormente lhe era impossível.
O testemunho, como ferramenta clínico-política, distancia-se da evidência jurídica para, assim, fazer emergir a verdade da experiência do sujeito dentro daquele contexto político histórico e social. Nesse sentido, parece-nos importante fazer uma ressalva quanto à palavra “reparação”, utilizada no campo da justiça de transição, uma vez que este processo de elaboração do traumático não almeja um apaziguamento por meio do apagamento do vivido, mas propõe uma recomposição psíquica e coletiva dos episódios de horror.
A questão é construir as condições espaciais, psíquicas e relacionais necessárias para que tais falas emerjam e desencadeiem processos de saúde para os sujeitos.
Alexei Conte Indursky
Carlos Augusto Piccinini
O testemunho, como ferramenta clínico-política, distancia-se da evidência jurídica para, assim, fazer emergir a verdade da experiência do sujeito dentro daquele contexto político histórico e social. Nesse sentido, parece-nos importante fazer uma ressalva quanto à palavra “reparação”, utilizada no campo da justiça de transição, uma vez que este processo de elaboração do traumático não almeja um apaziguamento por meio do apagamento do vivido, mas propõe uma recomposição psíquica e coletiva dos episódios de horror.
A questão é construir as condições espaciais, psíquicas e relacionais necessárias para que tais falas emerjam e desencadeiem processos de saúde para os sujeitos.
Alexei Conte Indursky
Carlos Augusto Piccinini
A CLÍNICA DO TESTEMUNHO
"Uma clínica do testemunho é, uma clínica do laço social, ao criar condições de possibilidade para que se escutem e se criem novos testemunhos, conectando intergeracionalmente a atualidade do horror que ainda marca nosso tecido social.
O Projeto Clínicas do Testemunho é, portanto, um passo dentro do processo de justiça de transição, cuja grande carência ainda reside na não responsabilização dos agentes perpetradores de violência, amparada na lógica dos crimes conexos."
Alexei Conte Indursky
Carlos Augusto Piccinini
Clínicas do Testemunho/ RS
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